sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Heróis do Luvuei - Lutembo, 15 - 11 - 1973

"Corisco"Alferes/Correia ao centro, um dos heróis do 15 de Novembro 1973

Entre o Luv
uei e o Lutembo O inferno é, em termos de interpretação “compêndica” e religiosa, um lugar destinado ao suplício dos condenados. Supostamente um lugar onde se tem de sofrer muito, um lugar tenebroso de caos, desordem e confusão. Pode também ser a morada das almas penadas depois da morte, especialmente das almas que em vida fizeram a apologia de coisas tidas por menos boas.

Que mal fez este grupo de homens para merecer tal sorte? De que afrontas eram acusados? Que género de pessoas merecem a guerra? Fazê-la, senti-la e, pode dizer-se, alimentá-la e prová-la? Quem se expõe ou arrisca tanto assim, ou mesmo tudo, recebendo, por contrapartida, tão pouco?

As informações existentes davam conta de grandes movimentações de numerosos guerrilheiros nas zonas do Luvuei, Lutembo, até Gago Coutinho. Esta situação deu lugar à preparação de uma operação designada como Barbado E/H, que iria marcar definitivamente e inexoravelmente a Companhia, demonstrando que o azar estava arreigado, que estava firme pela raiz, colado e entranhado…

Quatro grupos, num total de cem militares, saíram do Luso na manhã no dia catorze de Novembro, em direcção a Gago Coutinho, e foram lançados em determinadas zonas amplamente estudadas, com objectivos perfeitamente definidos, constituindo a primeira parte da operação.

Os grupos, número um, comandado pelo “Diabo”/Alferes Barbado (tinha o nome da própria operação) e número três, comandado pelo “Corisco”/Alferes Correia, seguiram no dia seguinte, quinze de Novembro de mil novecentos e setenta e três, com o mesmo destino.

"Corisco” iniciara dias antes a leitura de um livro cujo autor apreciava muito, Frederick Forsythe, denominado O dia do Chacal. O objectivo do Chacal era, no livro, mais tarde transformado em filme, assassinar o General de Gaule, Presidente da Republica Francesa.

O objectivo deste grupo de homens, comandados por “Diabo” e “Corisco”, não era assassinar, porque o termo não é utilizado no contexto da guerra, mas, naturalmente, que não iam cumprimentar, ou dar as boas vindas, a ninguém. Iam, mais uma vez, para uma situação de confronto directo, desta vez na zona de Gago Coutinho. Não sonhavam, porém, que o confronto iria ser tão directo assim, quase um frente a frente, um cara a cara, e que teria lugar bem mais cedo do que seria previsível.

Cinco viaturas unimog saíram então do Luso após a alvorada, com destino a Gago Coutinho, transportando dois grupos de comandos, o que concretamente significa cinquenta militares.

Depois de percorridos cento e poucos quilómetros, entre as povoações do Luvuei e do Lutembo, um numeroso grupo de guerrilheiros perpetrou um ataque sobre as nossas tropas, infelizmente, uma das mais bem sucedidas emboscadas de que há memória sobre as tropas especiais, não só pelo número de feridos e mortos que causou, mas também pelos estragos materiais que foram infligidos.

O inferno teve inicio com um disparo, provavelmente, de rocket, que atingiu a primeira viatura, causando morte imediata ao respectivo motorista e ferimentos no Barbado e a outros militares, bem como outras mortes.

A esse disparo seguiram-se milhares de disparos de espingardas automáticas kalashnikov, de fabrico russo (naquela altura dizia-se de fabrico soviético) e de bazucas.

As viaturas circulavam ligeiro e, na altura, a uma distância de trinta a cinquenta metros umas das outras. O sol fustigava, pelo que todos viajavam meio adormecidos. “Corisco” lia o Chacal, naquela cena em que o mesmo dispara sobre o General de Gaule, na altura em que este fez uma vénia para cumprimentar um antigo combatente, que supostamente ia ser condecorado por préstimos, quando Chacal prime o gatilho. A vénia salvou o General da tentativa de assassínio, pois a bala passou-lhe por cima da cabeça.

“Corisco”, na terceira viatura, tentou perceber o que se passava e cometeu um erro que lhe ia custando a vida. Levantou-se no unimog, enquanto retirava em simultâneo a espingarda G3 dos respectivos apoios, no momento preciso em que o motorista travou a viatura, tentando evitar a da frente que, entretanto, diminuíra a marcha e travara também.

“Corisco” saiu pela “borda” fora desamparado, num salto descontrolado que terminou no asfalto. Estatelado, sentiu uma dor profunda na coluna lombar e rastejou, deixando-se cair pelo declive formado pela própria estrada, mas para fora desta.

Tentou com dificuldade movimentar-se. As pernas não lhe obedeciam direito; estavam estranhas, Contudo, a quantidade de disparos impediu que o grupo executasse grandes manobras. O número de disparos efectuados contra as viaturas, num claro intuito de as destruir, fez, crer, rapidamente, que os agressores não tinham qualquer intenção de deixar sair dali ninguém com vida.

A confusão instalada gerou momentos de inquietação. Percebeu-se de imediato que era necessário pedir ajuda muito rapidamente.

“Corisco” estabeleceu então uma estratégia. Chamou o Nunes, militar em quem depositava total confiança, e ordenou-lhe:

- Vai ao unimog tentar recuperar o rádio.

Num “golpe de mão” perfeito, o Nunes trouxe o rádio, enquanto eram atiradas para o lado oposto algumas granadas para dissuasão e protecção da manobra. “

Corisco” observou rápida e minuciosamente o rádio de alto a baixo e verificou que o mesmo não fora atingido e estava em boas condições. “Deus é grande”, pensou. Será que Ele nos vai ajudar a sair daqui? Mandou estender as antenas nas direcções correctas, processo que foi feito todo a rastejar, pois levantar a cabeça, podia ser fatal, tal a quantidade de disparos que se faziam sentir e iniciou o contacto rápido com o posto de comando.

O Capitão Ovídio Rodrigues, juntamente com o Furriel Trindade, militares sobejamente respeitados, estavam do outro lado da linha.

- Óscar! Óscar! Aqui “Corisco”. Escuto. Ah Óscar! Óscar! “Corisco” chama. Diga se me ouve. Escuto. “Óscar! Aqui “Corisco”! Porra! Diga-me se me ouve c`um caraças!

Os segundos pareciam dias. As balas sobrevoavam as cabeças. Percebia-se já a existência de algumas baixas, pois alguns companheiros jaziam inertes na estrada de asfalto, até que, após algumas tentativas, o contacto foi conseguido. -

Ah “Corisco”! Óscar à escuta. Informe.

Óscar! Aqui “Corisco”! Urgente! O grupo está a ser atacado. É uma emboscada e são muitos “ines” (inimigos)! É necessária ajuda imediata! O grupo tem vários “mikes” (designação codificada para mortos). Escuto…

- Quantos “mikes” fizeram?

- Temos “mikes” e vários “ foxtrotres” (feridos). Os “mikes” são nossos, porra! Os mortos são homens nossos! Escuto…

A situação era difícil de entender por parte de quem ali não estava, pois nada fazia prever uma circunstância daquele tipo. Uma emboscada no asfalto, a tropas comando bem armadas era impensável, daí as renitências e reticências do outro lado do fio.

No entanto depressa perceberam.

O que de facto importava era haver, sobretudo, comunhão de espíritos entre os comunicadores, de modo a que entendimento se fizesse célere. Especialmente quando se está com a corda na garganta.

- Certo “Corisco”! Pronto, pronto, já entendi. Informem as vossas coordenadas rápidas.

- Estamos na estrada, exactamente entre os dois aquartelamentos do Luvuei e Lutembo – retorquia “Corisco”.

- Afirmativo. Vamos já para aí. Segurem-se! Aguentem-se com esses gajos mama sumé. Terminado.

As coordenadas, entretanto, fornecidas, nunca tinham chegado até eles em situação tão complicada. O mapa jazia aberto no chão de areia. A bússola, timidamente como sempre, apontava o norte. As latitudes e longitudes, apesar de eminentemente claras, eram perfeitamente prescindíveis, porque a indicação mais importante era a posição entre o Luvuei e o Lutembo. -

Não demorem! Não demorem! Terminado.

A ajuda demorou mais de que uma eternidade.
Quem esteve debaixo de fogo intenso durante uma hora entende o que é, afinal, uma eternidade.

Entretanto, quando os grupos saíram das viaturas, um grupo de cinco comandos guinou para o lado contrário, ou seja, o lado onde estavam os guerrilheiros. Era o grupo do Furriel Figueiredo, num total de cinco homens. Estavam do lado de lá, acachapados junto ao solo, utilizando algum arvoredo baixo – para não serem vistos.

Havia então que resgatá-los; havia que os tirar dali.

Foi então que se estabeleceu a estratégia de lançar para o lado contrario, e bem para além do grupo, algumas granadas e dilagramas e, enquanto o material explodia, os homens passaram rapidamente para o lado de cá, engrossando e organizando a defesa.

Após os contactos para pedir ajuda, “ Corisco” espreitou de novo por baixo do unimog que começara a incendiar-se, provocando fumo intenso, e decidiu que tinha que ir resgatar a metralhadora que ficara no unimog, nesta altura já em chamas do lado contrário ao nosso. Nunes novamente, um verdadeiro herói. -

Vai buscar a metralhadora! Tem de ser! É a nossa salvação!

Sem pestanejar, semi-encoberto pelo fumo e com a ajuda do lançamento de algumas granadas e disparos para protecção, recuperou-se a arma.

Os gritos dos nossos “emboscadores” eram muitos e muito intensos. Quase que sentíamos a sua respiração.

- Vão morrer – diziam – Vão morrer todos. Ou melhor: “Vá morrê tódes…Branco vai morrê memo hoje”.

Um dos unimogs apitava, emprestando àquele ambiente um espectáculo assustador, uma atmosfera sinistre de pânico latente. Uma buzina havia ficado “colada” e apitou de facto até que o fogo a consumiu. Graças a Deus que a maldita da buzina se calou.

Passaram-se dias, talvez meses, ou será que não foram anos, e aquele som da buzina foi permanecendo audível no subconsciente de “Corisco”!

Durante breves instantes, “Corisco” viu um barco de cor preta atracar lá longe na costa leste dos Estados Unidos com pessoas que não quiseram fazer a guerra. Tinham razão. A opção de vir para o inferno fora só dele. Que raio de aposta…Que raio! Que fazia ele ali? Até hoje não obteve resposta…

Foi então que, depois da metralhadora HK 21 começar a fazer estragos, se apercebeu que, aos poucos, o domínio da situação passava para o lado dos comandos e que uma ténue hipótese de sobreviver começava a ganhar forma.

Chegavam informações: a primeira que o Gouveia, um excelente soldado, estava morto e que o Silva não estava nada bem; que o Furriel Félix era um dos que estavam caídos na estrada e que estava morto. Outras informações imprecisas chegavam a “Corisco” no meio daquela confusão. Onde estaria o Barbado? O que lhe teria acontecido? “Corisco” não o vira desde que aquilo tinha começado.

O nome de guerra do Barbado era como já foi referido “Diabo”, e durante toda aquela confusão “Corisco” não se esquecera um momento dele. Gritou mesmo por ele:

- Diabo, Diabo, Diaboooo, Diaboooo, onde estás? Não obteve resposta.

Que faço eu? – Interrogou-se “Corisco” – Como é possível estar a chamar, a berrar mesmo pelo Diabo, quando o que urgia é que a influência Divina, a Mão de Deus preponderasse e alterasse aquela delicada situação?

Até que o “Diabo”, digo Barbado, apareceu desfraldado e com a arma em punho, sangrando do baixo-ventre.

- Morremos aqui todos, Correia! Temos que ir a eles! Vamos reagrupar…

- Já mandei vir ajuda – referiu “Corisco” - temos que aguentar.

Aos poucos, o controle da situação foi restabelecido, mas ajuda, nada…

Alguém chamara, entretanto, a atenção de “Corisco”.

- Chefe! – Dizia - Tem sangue no camuflado!

Meteu a mão esquerda por baixo do camuflado e, ao retirá-la, vinha de facto suja de sangue; qualquer coisa de anormal se passara na zona do glúteo esquerdo superior.

- Franganito! Atira duas roquetadas para aqueles cabrões! Acaba-me com aquela raça!

Assim foi. Após dois consequentes estrondos, gritos e um silencio sepulcral, percebeu-se que as coisas estavam a mudar.

Entretanto, quem quer que estivesse do outro lado já perdera a sua oportunidade. Tinham tido o seu ensejo, isto é: a convicção de “Corisco”, de uma forma realista e fria, é de que se eles tivessem aproveitado o factor surpresa que esteve totalmente do lado deles, se tivessem investido logo que despoletaram a emboscada, com a quantidade de guerrilheiros que havia do outro lado, teriam provocado mais estragos.

Foi um cenário que felizmente não aconteceu. Pelo contrário. Se tivesse acontecido, seria bem possível que o autor destas crónicas jamais tivesse tido a oportunidade de as escrever.

Deixaram reagrupar e agora eram os atacados quem, de uma forma mais ordenada, controlava a situação.

- Chefe, parece que estão a fugir. Vamos a eles?

- Não, não vamos! Deixem-se ficar! Mantenham as vossas posições até recebermos ajuda.

“Corisco” começava a perceber de guerra de guerrilha, uma vez que, não raras vezes, em situações idênticas, os guerrilheiros armadilhavam a zona onde tinham estado. Por vezes, emboscavam-se de novo. Aprendiam depressa…

“Corisco” costuma dizer em surdina, a quem priva mais de perto com ele, que os seus trinta e poucos anos de silêncios sobre esta matéria, são também trinta e poucos anos de lucro. Costuma até dizer que já morreu lá atrás, diversas vezes, ou pelo menos seguramente uma vez…desta vez. Foi, sem duvida alguma, a pior experiência de vida e quiçá a pior experiência de todos aqueles que bravamente resistiram àquela investida.

O livro do Chacal desapareceu durante a contenda, talvez tivesse ardido conjuntamente com o unimog, tal como desapareceu, durante muito tempo, o sorriso da face de “Corisco” Durante muito tempo, uma marca indelével manteve-se latente, como um registo fotográfico, encurtando-lhe o sono, alterando-lhe o humor. Durante largo tempo teve dificuldade em esboçar sequer um sorriso, um simples sorriso.

Os helicópteros com ajuda militar chegaram entretanto, já os guerrilheiros tinham abandonado a luta, deixando atrás cinco comandos mortos, quinze camaradas feridos e um estado de sítio macabro e sinistro. Deixaram também atrás um grupo de heróis, extenuados, amargurados, mas orgulhosos. Sim, um grupo de valorosos heróis a quem se deixa neste capitulo, em particular, um reconhecimento sem medidas. Há que lhes dizer sempre:

- “Audaces Fortuna Juvat” (A sorte protege os audazes). Há que lhes gritar estridentemente: -“Mama Sumé (Aqui estamos…).

Os helicópteros levaram os feridos, incluindo “Corisco”. O Tratamento das mazelas custou-lhe cerca de um mês de internamento e tratamentos no Hospital Militar de Luanda. Ainda hoje algumas mazelas permanecem disfarçadas no meio das rugas que o tempo vincou, no íntimo dos seus sorrisos tímidos, no âmago da sua existência, no seio das suas recordações.

Não raras vezes, sobretudo quando a vida se complica um pouco com as suas manobras, “Corisco” relembra-se, querendo relevar, que complicada, complicada mesmo, fora a situação narrada neste capítulo.

Há pouco tempo, num ímpeto deliberado e incontrolável, quis acabar o livro que não acabara de ler, o dito Chacal… Procurou-o nas estantes das livrarias, sem sucesso, encontrando-o finalmente num alfarrabista. Releu-o de uma forma sôfrega e sentiu um calafrio quando chegou ao ponto em que havia ficado, há mais de trinta anos. Ficou triste ao verificar que o Chacal também morrera…

(Transcrição do livro a Fisga, cujo autor viveu e sofreu na pele esse dia de inferno)

5ª Operação da 2042 Cmds

No Lutembo, um mês antes da fatidica emboscada
Na estrada entre Luvuei, e Lutembo 15 de Novembro de 1973
Estado em que ficaram sa viaturas, após a emboscada
Reforços chegados de Gago Coutinho, 2 horas depois, por culpa da Força Aérea
Depois da saída da 2041ªC.C. para a ZMN e concluída a instalação da companhia no quartel, deu-se uma nova saída na manhã do dia um de Novembro para a região do Lutembo.

Todos os grupos excepto o grupo de alerta e as equipas de defesa imediata, foram lançados de helicópteros nos dias um e dois de Novembro naquela região, a norte do rio Lungué-Bungo, para realizar a operação Martelada E/H. Sem contactos com o inimigo a companhia regressou ao Luso, no dia seis de Novembro.

Os dias de descanso operacional passados no Luso, começavam sempre com a cerimónia da Bandeira. Por vezes, para manter a forma fisica, a companhia realizava crosses até ao rio Luena que passava a sul da cidade. O treino de tiro quase diário era igualmente realizado nessa zona da cidade, numa carreira de tiro aí existente. Numa dessas sessões de tiro o comandante da companhia, capitão Cunha Lopes foi ferido na mão direita. Foi transportado ao Hospital Militar do Luso onde ficou internado.

O conhecimento da existência de um grupo numeroso de guerrilheiros do MPLA, que se movimentavam nas zonas do Luvuei, Lutembo e Gago Coutinho, desencadeou a operação Barbado E/H, sob o comando do capitão Ovídio Rodrigues, do CIC, que se deslocou por via aérea e se juntou 2042ª C.C. em Gago Coutinho.

Os primeiros quatro grupos a serem lançados no terreno, saíram do Luso na manhã do dia catorze de Novembro em viaturas auto para Gago Coutinho onde chegaram de tarde. No dia quinze de Novembro foram lançados de acordo com o plano da operação, três grupos nas zonas previstas, tendo ficado no quartel de Gago Coutinho o grupo de alerta e as equipas de defesa imediata.

Os outros dois grupos, o 1º e o 3º, saíram do Luso na manhã do dia quinze rumo a Gago Coutinho. Na estrada de asfalto que ligava o Luso a Gago Coutinho, próximo da povoação do Luvuei, um numeroso grupo de guerrilheiros do MPLA realizou uma das mais bem sucedidas emboscadas contra as nossas tropas, não só pelo número elevado de mortos e feridos que nos infringiu, mas também pelos estragos causados sobre o material. A posição mais que passiva do comandante da esquadrilha de helicópteros bem como a reacção estranha de um dos dois pilotos de T6 que levantaram do Luso, fez dos operacionais destes dois grupos combatentes heróicos. Contra um inimigo em muito maior número e detentor da surpresa, bem posicionado, com um potencial de fogo elevadíssimo e que dispôs sempre do controlo da situação, foram capazes de empreender a reacção à emboscada de modo a alterar os seus propósitos, repelindo-o ao fim de quase uma hora de combate. Quando o grupo de alerta e os operacionais pára-quedistas chegaram ao local em viaturas auto, já o inimigo tinha retirado com um morto confirmado e um elevado número de feridos. Os nossos cinco mortos e quinze feridos graves foram evacuados para Gago Coutinho e daqui para o Luso. Apesar da heróica reacção, teremos vivido o dia mais amargo de toda a história dos Comandos Portugueses. Esta emboscada, fez abortar a operação Barbado E/H, tendo os grupos que se encontravam no mato sido recuperados de imediato para Gago Coutinho. A companhia saiu nessa noite de Gago Coutinho, pernoitou na unidade militar do Luvuei e seguiu para o Luso no dia dezasseis de Outubro, com pesadas baixas e poucos resultados.

Considerando as baixas sofridas nesta emboscada e a falta de comandante de companhia, alguns responsáveis militares colocaram a hipótese da sua dissolução e distribuição por outras companhias. A nomeação para comandante da companhia, do tenente comando Isaías Pires, no dia sete de Dezembro de mil novecentos e setenta e três, fez cair a ideia de dissolução.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Para Meditar e Reflectir!

“ ANTIGOS COMBATENTES: DIGNIDADE”


Os combatentes das últimas campanhas ultramarinas, alguns, acabam de receber a comunicação da Caixa Geral de Aposentações informando o valor do acréscimo vitalício de pensão a creditar nas pensões de reforma de Outubro: 150 euros, valor anual (78 euros líquidos nalguns casos).

Um antigo oficial miliciano desabafava para o seu antigo capitão, o tratamento que esta alteração da lei pelo XVII Governo Constitucional lhe tinha merecido: com um cheque, devolver ao Estado o valor atribuído. E se o seu agora coronel, com cinco comissões em África, viu o seu acréscimo vitalício reduzido de 700 para 150 euros, que concluir do reconhecimento devido aos soldados dos treze anos de guerra? Em grande parte dos casos, agraciados com reduções de 150 para 115 euros (ilíquidos).

No princípio era a demagogia. Perante uma campanha eleitoral e para conquistar (ou ludibriar) eleitores, um jovem político avança com a promessa: criar um suplemento de pensão para antigos combatentes.
Sem ter efectuado qualquer cálculo, estavam para vir: as despesas na montagem de um sistema englobando meio milhão de antigos combatentes; os custos pelo pagamento do acréscimo (vitalício) ás centenas de milhares de envolvidos.

E assim se consegue a adesão de eleitores, os indispensáveis votos para conquistar o poder, o que efectivamente veio a suceder com o autor da proposta: Paulo Portas, com o lugar de ministro da Defesa.

Depois, a economia. Para quem nunca acreditou na necessidade, justificação ou bondade de tal medida, nada do agora sucedido espanta. Quem nunca cuidou a sério dos verdadeiros necessitados de apoio, os deficientes militares, com a criação de dois ou três lares de luxo onde serem tratados e ou recolhidos com dignidade, jamais iria estar preocupado genuinamente com 500 mil antigos combatentes que nada tinham pedido. Assim o quis a demagogia, entretanto travada pela economia.

Um antigo coronel engenheiro militar, sugeria há dias à Associação de Oficiais (AOFA), que ponderasse o levantamento de um processo ao Estado (de direito).

Mas desde que vimos um ministro da Defesa (jurista de profissão), cancelar um suplemento de pensão aprovado em diploma do Governo/AR, com um simples despacho seu, tudo é possível, como no reino da Dinamarca.

No final, a demagogia. Reduzida a «Vitalícia», por se ter tornado incomportável para as Finanças do Estado, assim se cultiva a dignidade dos antigos combatentes. Registe-se a honradez dos responsáveis políticos do Estado: Governo/AR.

Assim se comprova como são rigorosos os governos, excepto quando das grandes empreitadas ou dos profundos estudos com que preparam o futuro do país.

Já não haverá muitos antigos combatentes, que pelos sessenta anos de idade voltem agora a ser pais. Uma nova surpresa (agradável) os esperaria. Numa conta bancária dedicada ás cem mil crianças a nascer anualmente nos próximos anos, o depósito de 200 euros, por obra e graça do XVIII Governo Constitucional. Aqui está no que dão as promessas eleitorais (sem custos para os utilizadores: secretário geral do PS).

Nada como 200 euros de pura demagogia: 20 milhões anuais, 80 milhões por legislatura. A recolher dos impostos dos contribuintes e contributo dos antigos combatentes?

(Do Blog, CC.3440)
Barroca Monteiro
(enviado ao DN)

(Nota do editor) Continuo a pensar, que as associações que representam os ex-combatentes não estão isentas desta falta de respeito que se faz sentir no nosso sentimento de Patriotas. Cabe a elas liderar um movimento colectivo e renvidicativo de verdadeira afirmação de quem muito deu, e nada recebeu. Que é feito dos homens que combateram os inimigos que não tinham rosto, e temem agora os inimigos com rosto e têm nome!?!! Agora, mais do que nunca, faz mais sentido a palavra: Para o Parlamento e em força!

sábado, 24 de outubro de 2009

Uma força de respeito acomodada!

Desabafo de ex-combatente

O «Jornal de Notícias» desta sexta-feira publica, na página 28, uma carta de Armando Sousa, ex-combatente da Guerra Colonial:

“Recebi o Suplemento Especial de Pensão atribuído aos antigos combatentes na guerra colonial. Por força de uma nova lei – 3/2009, de 13 de Janeiro – o referido suplemento retira-me 35 euros e alguns cêntimos em relação ao ano anterior
. Ao consultar essa mesma lei, verifico que um “novo critério” foi adoptado e, numa escrita complicada, que nem os legisladores entenderão (mas é esse, provavelmente o objectivo), pretendem explicar-me e “limpam-me” sete contos (na moeda antiga) com a maior das diplomacias… Aos senhores presidentes da República e da Assembleia da República, senhor primeiro-ministro e demais ministros do último Governo, apresento as minhas sinceras desculpas por ter combatidos nas matas dos Dembos, e, por força dessa minha atitude obrigar, agora, o país, suportado por lei votada pelos deputados da Nação, ao supremo esforço de remunerar-me com cento e cinquenta euros anuais. Obrigo-me, por isso, a ficar grato ao meu país por este reconhecimento. Na realidade, eu sempre pensei, enquanto ex-combatente, que não valia nada. Enganei-me…

(Nota) Claro que estes ursos que nos governam desconhecem essa história. A história que os pais deles lhes contaram, foi de que fomos para lá beber umas cervejas! E nós combatentes aceitamos isso na sua maioria. Foto e texto extraido do blog, LESTEDEANGOLA. weblog.com.pt

domingo, 4 de outubro de 2009

Morreu o "Comando" Freitas

A nossa homenagem

No interior, com elementos da direcção
Na Delegação de Veteranos de Guerra de Guimarães
Camaradas de armas, sempre presentes
Não te esqueceremos Freitas!


Mais um camarada nos deixou. Não o veremos mais nos nossos encontros anuais, mas estará sempre presente na nossa memória, a exemplo de outros camaradas falecidos. Alberto Monteiro de Freitas, padecia há dois anos de doença incurável, resistiu o quanto pôde, tendo falecido no dia 2 de Outubro. No dia 3 foi sepultado no cemitério de Guimarães de onde era natural. Sua esposa satisfazendo um último pedido dele, de que queria os seus irmãos de armas presentes, contactou-me nesse sentido, e fizemos-nos representar com elementos da Companhia. Depois das orações pela sua alma, foi acompanhado à sua última morada, tendo o cortejo fúnebre parado em frente à delegação dos veteranos de guerra de Guimarães para assim ser homenageado. Uma palavra de agradecimento aos elementos desta direcção, em particular ao Sr. Gerardo, que nos recebeu com muita gentileza e acompanhou o nosso camarada. No cemitério, ao chamamento do camarada Freitas, proferido pelo Faustino Almeida, foi impressionaste o nosso "mama sume"
. A toda a sua família, os nossos sentidos pêsames e um abraço de solidariedade.

Para ti Freitas, a 2042ª grita em uníssono, Mama... Sume!...

Paz à sua alma