quarta-feira, 24 de junho de 2009

Comemorar o 29 de Junho, é evocar o Capitão Sousa Gonçalves

16-02-2009
Faleceu o Capitão Cmd Sousa Gonçalves

Em 14 de Fevereiro faleceu o Capitão Comando José Manuel Ferreirinho de Sousa Gonçalves, nasceu em 29MAI943, em Lisboa. Este oficial "comando" foi comandante de um grupo de combate da 2ª
Companhia de Comandos do Coronel Jaime Neves, em Moçambique (1966-67).

Nas operações do 25 de Novembro

Por Capitão Cmd Sousa Gonçalves

"No Verão Quente uma minoria esmagava a maioria do Povo Português. Todos eram impotentes para a travar. A Associação de Comandos, existente desde fins de Setembro de 1974, estava atenta. Atenta, porque o comando ama a sua Pátria.
Em Agosto de 1975, o Coronel Jaime Neves chamou-me e ao comando Vítor Ribeiro, ao Regiment
o de Comandos e transmitiu-nos na parada, de braço dado connosco, as suas apreensões e as que lhe eram comunicadas por quem detinha o poder político-militar na época, em relação à situação vivida na altura. Dizia-nos que aquelas entidades viam, talvez como única alternativa, possivelmente a guerra civil. As Unidades não tinham praticamente comando. Nenhum comandante podia dizer, então, que uma ordem dada às suas tropas ia ser cumprida a 100%.
Havia assim a hipótese da guerra civil. Utilizar-se-iam aqueles que se mantinham fiéis ao 25 de Abril, à liberdade e à democracia e que iriam para o Norte, onde a maioria do Povo ainda estava firme e onde se tinham desenrolado as acções já referidas neste colóquio, através da Igreja e da vontade da maioria das gentes do Norte. Depois teríamos que avançar para o Sul.
Lembro-me bem das preocupações desse homem de grande coragem e carácter, o Coronel Jaime Neves, preocupado com essa previsível guerra civil, na sua terra, no seu País e entre a sua gente.
Lisboa, a bacia de Setúbal e parte do Sul estava a saque da referida minoria. Naquela situação, a missão da Associação de Comandos era ficar nesta zona de Lisboa, fazendo acções de sabotagem em consonância e às ordens da cadeia militar instituída e a quem estávamos ligados. Já nessa altura, a Associação de Comandos iria ter, talvez, a parte mais gravosa do problema. E também nessa altura dissemos presente!
Mais tarde, surge o Decreto-Lei, a convidar ao regresso à efectividade do serviço militar, dos antigos combatentes, isto é, todas as tropas especiais. Os comandos foram os únicos que responderam. Em cerca de dez dias, fizemos entrar no antigo Regimento de Comandos, hoje extinto, duas companhias de convocados. A partir daí, julgamos que apenas o Comandante do Regimento de Comandos e o Comandante do Regimento de Cavalaria de Estremoz poderiam afirmar poder dar ordens a 100% e serem cumpridas.
Mais uma vez, aproveito a ocasião para, numa altura em que aparecem tantos livros..., afirmar que a única Unidade que se apresentou no Regimento de Comandos antes da vitória, foi o Regimento de Cavalaria de Estremoz. Nós não esquecemos!
Queria recordar alguns factos históricos, de somenos importância e que as pessoas talvez não se lembrarão:
• A entrada dos convocados no Regimento de Comandos e a sua mentalização para poderem dar a vida pela liberdade e pela democracia.
• O fim das ADUs no Regimento e o 20 de Novembro, quando fomos ao AMI, e informámos o seu Comandante, Brigadeiro Melo Egídio, através do nosso Comandante, Coronel Jaime Neves, que dávamos 48 horas ao Governo, para passar a exercer o seu poder político. E não me esqueço daquele nosso Brigadeiro ter dito ao nosso Coronel: Jaime nunca me tinha dito que tinha tanta força.
• A ida ao Forte de S. Julião da Barra, à reunião do Conselho da Revolução, para apoiar o então Primeiro Ministro, Almirante Pinheiro de Azevedo.
• A tentativa de aliciamento falhada dos pára-quedistas regressados de Angola, para que entrassem no golpe.
Há outro aspecto muito importante e de que ninguém fala - a ida do material desses pára-quedistas para o Norte. O Coronel Jaime Neves entrou no Regimento, cerca das 22H00 ou 23H00, e disse-me: A PM está toda na rua a caminho do Norte, para "sacar" o material dos páras, que veio de Angola. Há que fazer qualquer coisa. Agarrámos em 40 comandos, da Companhia de Comandos 121, e fizemos parar a PM. Em paz e em diálogo, como agora se diz... Não terá sido um diálogo de palavras, mas suficiente para funcionar. Conseguimos que esse material fosse para a Região Militar Norte. A PM regressou toda ao seu quartel, com as G 3 viradas para o ar, quando passava junto de nós.
É também interessante recordar que, nessa noite, enquanto o Coronel Jaime Neves andava numa viatura civil, com mais dois ou três comandos, a verificar como decorriam essas movimentações da PM e eu me encontrava com um Grupo de Combate junto à Presidência da República e à PM, onde dispersei, em poucos segundos, uma dessas manifestações, que se faziam na época, fui chamado ao Sr. Presidente da República, que me deu ordens para retirar a tropa. Ao que eu, respeitosamente, lhe respondi que não retiraria, sem receber ordens do meu Comandante."



NOTA:
1 - Extracto da comunicação proferida em 21-11-1995, por ocasião da comemoração do 20.º aniversário do 25 de Novembro, promovida pela Associação de Comandos, na S.H.I.P.

Um comentário:

garcez1ck disse...

Viva Camarada e amigo, vi a homenagem que prestates ao Cap.Sousa
continua pois tens muito que contar. Se tiveres tempo visita o SITE
SERVIR PORTUGAL tem um Topico COMANDOS esta formidavel
Abraços
Pereira Garcez