quarta-feira, 8 de julho de 2009

A 2ª Operação da 2042ª Cmds

Adelino - Rubim - Daniel, no Ùcua em protecção no curso da 44ª e 45ª 25 - 07 - 1973 O dia em que morreu o Adelino


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Era mais uma operação igual a muitas outras, só que desta vez iríamos conhecer e sentir a experiencia de perder um camarada em combate. Já andávamos há dois dias na mata, e rasto de IN nenhum. Nessa noite já muito cansados dormimos como é habitual em círculo longe de imaginar o que nos esperava. O dia amanheceu com o habitual cacimbo, mas com boa visibilidade para prosseguirmos a nossa marcha rumo ao objectivo. Poucas horas depois vem a ordem para fazermos uma pequena paragem, estava na hora de tomarmos o pequeno-almoço, constituído por uma lata de leite achocolatado, a que nós adicionávamos umas bolachas, e pomposamente chamávamos a "papinha do “comando”. Mais revigorados e com o estômago aconchegado, prosseguimos a caminhada agora com mais dificuldade devido ao capim muito alto, e robusto que se apresentava à nossa frente. É então que vem a ordem do comandante do grupo, alferes Barnabé, para que a equipa do furriel Gomes, constituída por mim, cabo Araújo, Daniel, e Adelino passassem para a cabeça do grupo para assim abrir caminho que consistia em levar a arma na horizontal à altura do peito e com o nosso peso deixar-se cair para abrir um trilho para os restantes elementos. Para executar essa tarefa foi designado o Adelino devido ao seu porte físico e atlético. O ruído era perigoso mas inevitável, tínhamos consciência disso, tínhamos aprendido no curso todas as técnicas de aproximação mas neste caso não havia outra solução. Depois de termos percorrido umas centenas de metros em linha recta, flectimos para a direita onde nos deparamos com uma linha de àgua pouco profunda que só molhava as botas, que aproveitamos para beber, e logo de seguida subimos uma pequena elevação sempre com o Adelino à frente. Atingido o sopé, o Adelino só teve tempo de olhar para a esquerda e direita, porque acto contínuo uma curta rajada disparada de frente o atingiu mortalmente no peito, eu que vinha a escassos dois metros dele, e por isso ainda eu não estava campo visual de quem disparou, logo me debrucei sobre o seu corpo que se esvaiava em sangue, ainda a tempo de ouvir as suas ultimas palavras que lhe custavam a sair: Mãe…Mãeeeeee… Chorei. Tudo isto se passou numa fracção de dois minutos. Não reagimos porque foi tudo muito rápido, e não vimos o IN, a mata muito densa não o permitia mas ficamos com a certeza que o Adelino foi atingido a dois metros de distância. Naqueles breves momentos com os olhos humedecidos pelas lágrimas, fiz uma retrospectiva da nossa vivencia no curso e posteriormente como camarada da equipa, e só então me lembrei da sua premonição quando no decorrer do curso lhe perguntavam: Senhor Adelino, quer ser “comando”? ao que ele respondia: não meu alferes…eu não quer morrer! No final da operação regressamos ao Toto tristes por termos perdido um camarada e amigo que nunca esqueceremos…a nossa primeira baixa em combate. Poucos dias depois seria sepultado no cemitério de Catete em Luanda, onde estive presente a fazer guarda de honra a um dos nossos heróis. Até sempre Adelino!...

Quartel do Toto, onde estivemos 20 dias Julho de 1973
Aguiar, e Verdades a serem socorridos de ferimentos
Queima de um acampamento
A segunda saída da companhia para o norte de Angola e para as mesmas regiões do Zala e do Toto, deu-se no dia nove de Julho de mil novecentos e setenta e três, para nessa região se juntar às 33ª e 37ª C.C. e realizarem a operação Bicada B/IH.
Como na primeira operação também nesta um dos grupos da companhia separou-se no controlo militar de Sassa dirigindo-se para o Zala, pela estrada (picada) de Nanbuangongo. A companhia chegou ao Toto na manhã do dia dez de Julho, iniciando-se de acordo com o plano de acções, a largada dos grupos para as zonas de guerrilha no final da manhã.
As acções da operação Bicada B/IH desenrolaram-se numa zona de importância estratégica para a FNLA designada por COBA (Comando Operacional Baseado em Angola). No cumprimento dos objectivos traçados a companhia sofreu as suas primeiras baixas. Um morto, em confronto directo com o inimigo e três feridos graves, por accionamento de mina anti-pessoal colocadas nas proximidades e nos trilhos de acesso aos acampamentos atacados pelas nossas forças.
Alguns grupos foram recuperados para a base táctica da Cecília, acampamento de tropas comando e daqui seguiram em viaturas para o Toto.
O regresso a Luanda deu-se no dia trinta e um de Julho, com as baixas referidas e com resultados favoráveis insignificantes (uma mina anti-pessoal e documentação vária).

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